A morte da mãe é também morte do filho
Porque todo o filho veio de uma mãe
E quando a mãe morre, com toda a sua ternura e cuidado,
Com todo o olhar caloroso que só uma mãe pode dar a sua cria
Esse encontro de olhares se perde
Eu não posso mais encontrar o olhar da minha mãe
O olho que não olha mais
O filhote ficou sem o olhar
Mas não sou filhote
Não mais
Sou mulher calejada pela vida
Endurecida pelas circunstâncias
Prisioneira do acaso
Que me fode a cada dia
Merda transbordando
Nojo, asco, vômito,
Tudo em cima de mim
Náusea mortífera
Mas Que não mata
Que só desloca a vida de seu eixo inexistente
Não há um ângulo possível para estabilizar o eixo
São inúmeras possibilidades de ângulos
Dos mais confortáveis, aos mais insustentáveis
E enquanto viver
O mundo vai continuar girando
Por mais transvirados que pareçam esses ângulos