Sobre terapia – A orelha de Eurídice (Cazuza)

Não tem jeito, toda vez que escuto essa música de Cazuza, sou transporta para lugares essenciais do meu trabalho como terapeuta e da minha relação com meus pacientes.

Eu vejo os meus pacientes em sua singularidade, eles nunca são mais um, nunca perco eles na massa da multidão. Para mim eles são diferentes, especiais, singulares.  E me trazem presentes, me trazem caixas coloridas: compartilham sua  intimidade comigo: tem coisa mais preciosa que isso!

Uma orelha em um pano vermelho…sangue…dor…pedaço que falta, mas que não aterroriza, que não repele, mas que convida para um resgate! E eu volto, semanalmente,  pra ajudar essas pessoas que sofrem no corpo os castigos da alma, escuta atenta para achar sentidos nas mensagens ofertadas.

E muitas vezes nesse trabalho, o ar é pesado, falamos e olhamos para sofrimentos, complicações, culpas, erros… mas não são só as cicatrizes que definem meus pacientes. Tem também a pele virgem sem marcas, a criação do inédito, a esperança,  a cura, a iluminação, o triunfo!

Juntos, nessa parceria terapêutica vamos criando novas ideias e achando novas maneiras de se ser e de se olhar para a vida com suas possibilidades e limites.

O vento sopra, depois vai embora…a chuva vem… lembrando que as coisas passam…vontade de fugir pra dentro..dentro de si…se comprimir…se esconder, mas terapia é ato de coragem, é convite pra se abrir, pra enfrentar ventanias. Ainda mais quando se esta cansado de não gostar de si. Tá ai um motivo que já trouxe muitas pessoas pro meu consultório: exausto de se ser quem é, incomodado consigo mesmo. Um incomodo é um ponto de partida essencial pra se nascer um paciente!

Natália Vidal 

A ORELHA DE EURÍDICE (Cazuza)

Você na multidão
Você é diferente
As suas mãos me acenam
Nem parecem ter morrido
Cheias de presentes
Caixas coloridas

Trouxe uma orelha envolta
Num pano vermelho
É a prova, meu amor
Me espera sem uma orelha
Vou correndo, vou agora
Resgatar o meu amor

No asfalto quente
Do aeroporto
Como uma miragem
É a alma quem castiga o corpo
Esta é a mensagem
Na paisagem distorcida
Pelos aviões que sobem

Você voltou pra me ajudar
E eu fico mais feliz
Mas ainda não estamos salvos
O ar está pesado
Não é só a cicatriz
Que identifica um ser amado

Temos que ter ideias juntos
Temos que achar uma maneira

É que agora tá chovendo
Uma chuva sem vento
Há meia hora ventava
Vamos fugir pra dentro

Há meia hora ventava
E tínhamos coragem
E eu já tô cansado
De não gostar de mim

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