A doença grave e fatal, na qual o fim é esperado, tem data marcada, não te esquece, sempre ali presente, junto com a deterioração do corpo, na luta brava e a certeza da derrota – doença terminal.
Conviver com uma mãe doente, sentindo que aqueles vão ser seus últimos momentos juntas. Você olha para ela no banco passageiro do carro, vê seu corpo emagrecido, esquelético, sua respiração pesada, esforçosa, como de uma grande maratonista, que luta pelo último folego com a vivacidade de alguém que quer terminar a prova com dignidade. Penso nisso e o choro vem, pois sabia que não iria mais vê-la nesse mundo que ainda é meu. Me entristece. É fácil pensar em processo de luto, quando seu contato com ele é através de conceitos teóricos, que dizem de fases milimetricamente organizadas, que dizem quanto tempo ele vai durar, como se esse sofrimento algum dia tivesse um fim e de como lidar com essa experiência que ultrapassou tudo o que eu já vivi. Sinto que é como se o conceito teórico me lançasse para longe de meu sofrimento, que sei que é próximo de muitos outros adultos jovens, órfão de mãe, que morreram de câncer: doença assassina, traiçoeira, resistente, um ataque do corpo contra o corpo. Foi uma batalha. Saímos todos feridos. Sinto tanto a sua falta. Todos nós sentimos.