Filha, olha isso: esse homem lindo vira uma mulher mais linda ainda!

Filha, olha isso: esse homem lindo vira uma mulher mais linda ainda! Foi com essas palavras – que nunca esqueci e nem esquecerei- que minha mãe me mostrou pela primeira vez a RuPaul na televisão. Era 2009, a primeira temporada do reality show de competição RuPaul’s Dragrace, e minha mãe me disse isso ai toda animada e livre de qualquer caretice e preconceito. Eu agora, passado todos esses anos – e vivendo nesse mundo de extrema intolerância e violência contra pessoas como RuPaul- entendo o poder dessas palavras para mim e em mim, que se refletiam no jeito que minha mãe vivia a vida: respeitando profundamente TODAS as pessoas e sabendo que TODOS, sem exceção- e inclusive a poderosa drag queen RuPaul, uma pessoa linda nos olhos de minha mãe – têm o direito de ser e viver sua sexualidade e quem se é livremente. Outra coisa que me impressiona é que essas palavras ainda retumbam em mim, o que me faz pensar o quanto as palavras fazem marcas na gente, muitas vezes marcas permanentes – como no meu caso: na memória da pele minha mãe me deixou uma tatuagem de tolerância e respeito. Às vezes tenho a impressão que vivemos num tempo no qual postamos e compartilhamos nossas falas nesse palco/palanque virtual das redes sociais, esquecidos de que as palavras têm um peso, criam marcas. As palavras são virtuais, mas levamos elas pra nossa vida concreta. Olha que baita responsabilidade: o que teclamos/compartilhamos/curtimos podem criar/reforçar abertura e respeito, mas tb violência e destruição. Nossa, mãe! que bom que vc me disse isso, que bom que não banalizava as palavras, que viveu uma vida solidária, e eu queria que todos os filhos do mundo pudessem ter uma mãe com vc!

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